sexta-feira, 29 de junho de 2012


O conhecimento do corpo humano através do tempo

CORPO PRESENTE
Pesquisa desenvolvida na FE mostra como corpo humano foi visto ao longo da história
A forma como o corpo humano é visto e entendido sofreu inúmeras transformações ao longo da história. Na Idade Média, por exemplo, ele era considerado profano pela Igreja Católica. O papa Gregório Magno chegou a classificá-lo como “abominável vestimenta da alma”. No Renascimento, porém, o corpo ganhou novas representações, algumas ainda em vigor. “Na Renascença, teve início o que classifico de projeto educativo de racionalização do corpo. Graças ao uso de imagens, sobretudo as produzidas pela anatomia, foram construídas novas idéias e imaginações sobre essa estrutura física”, afirma Vinícius Demarchi Silva Terra.

 (...) a anatomia começou a ganhar espaço como um saber oficial no período em que o homem passou a ter necessidade de dominar e colonizar outras sociedades. “O que os cirurgiões da época fizeram, após articular-se com os representantes do poder da época, foi criar uma produção cultural, de modo a sistematizar e consolidar a anatomia. Para atingir essa meta, eles usaram a tecnologia de difusão mais avançada no momento, que era a imprensa”, como esclarece Vinícius Terra. 

A ação compreendia o emprego da imprensa para reproduzir gravuras extremamente detalhadas do corpo humano. À época, os “anatomistas” chegaram a encomendar obras nesse sentido a alguns dos mais renomados pintores em atividade, como Ticiano, um importante pintor da escola veneziana no período do Renascimento. “Essas gravuras eram posteriormente enviadas para os melhores impressores da Europa. As produções eram tão bem feitas, que hoje são consideradas obras de arte”.

Em algumas cidades européias, como Pádua e Montpellier, foram criados os teatros anatômicos, nos quais eram realizados verdadeiros espetáculos de dissecação de cadáveres, sob a forma de aulas de anatomia. As demonstrações, de caráter público, eram normalmente realizadas durante o Carnaval. “Tratava-se de um período propício, tanto por ser inverno, o que evitava a rápida decomposição dos corpos, quanto por ser  uma época profana segundo o calendário católico”, esclarece Vinícius Terra. Conforme o pesquisador, os teatros eram divididos para receber o público comum e os convidados especiais.

Além disso, durante as dissecações, há relatos da utilização de máscaras pelo público, como se este estivesse participando de uma festa carnavalesca. Concomitantemente, ocorriam apresentações musicais, diálogos cênicos e até mesmo pregações por parte de membros da Igreja, que aproveitavam a oportunidade para falar do destino do homem. De acordo com os clérigos, o que se via ali era apenas carne, que nada valia. O importante era cuidar do espírito. “Tudo isso acabou se constituindo em uma produção cultural da época, que ajudou a consolidar o paradigma anatômico.”

Trecho da reportagem - Corpo Presente. Campinas, 20 de outubro a 2 de novembro de 2008 – Nº 414   
Jornal da Unicamp - Universidade Estadual de Campinas / ASCOM - Assessoria de Comunicação e Imprensa 
e-mail: 
imprensa@unicamp.br - Cidade Universitária "Zeferino Vaz" Barão Geraldo - Campinas - SP 
 
 
 
 
Pintura de Rembrandt (1962),  
 retratando a dissecação de
 um corpo humano.



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